terça-feira, 28 de setembro de 2010

Os bastidores no palco.


No palco as luzes iluminam os atores que interpretam e incorporam seus personagens, na arquibancada as cadeiras vazias. A ausência da platéia e a falta de palmas revelam que no Teatro Ferreira Gullar a companhia Okazajo ensaia mais uma de suas peças.

O calor da tarde e o céu límpido destoam do escuro do teatro onde em um círculo no palco os atores lêem o roteiro e vão formando os seus personagens. O ensaio é regado a muitos risos e comentários. Trata-se da reapresentação de “A casa”.

As primeiras falas da personagem principal revelam o ácido humor “Pobre que é pobre tem que assistir o Bandeira 2 pra ter assunto com a vizinhança o dia todo”. Os risos dos atores assim como o som do tambor de outro ensaio invadem o único teatro na cidade, necessariamente divido entre os grupos culturais.

Muitas falas geram identificação de experiências próprias, um dos atores reclama “Tu fica contando as intimidades dos outros”, risos. As experiências pessoais inspiram e enriquecem o texto.

O ensaio é descontraído e engraçado, porém com algumas adaptações na linguagem, que deve ser um pouco mais comportada, segundo o diretor que tenta controlar os atores quando eles extravasam e fazem piadas muito picantes: “Não fala ‘priquito’ fala ‘xana!’”, a gargalhada é geral.

Os atores discutem o texto e continuam o ensaio, mas são constantemente atrapalhados pelo calor e pelo barulho do ensaio de um grupo musical: “Isso é que dá não ensaiar no Projac”, graceja um dos atores.

A leitura continua com fortes e engraçadas falas: “Se essa criança não latir em três dias, pode criar que é gente.” Apesar do ensaio, o texto é apenas uma base, a peça é principalmente improvisação e requer talento, rapidez e inteligência dos atores, mas eles fazem humor até com as responsabilidades e brincam com o ator que fará a protagonista: “Não queremos te pressionar, mas se a peça não der certo, a culpa é toda tua, baby”.

E ainda com muitos risos eles saem para um pequeno intervalo e um bate-papo descontraído com o ComCultura. E mais tarde subirão ao palco novamente, desta vez para encarnar e construir seus personagens, afinal em apenas uma semana estarão se apresentando pra valer ao público!

ComCultura interage com a Companhia de Teatro Okazajo


O projeto ComCultura visitou mais um grupo cultural de Imperatriz: a companhia de teatro Okazajo, que falou das dificuldades de viver de arte no Maranhão e do amor pelo teatro.

A companhia de Teatro Okazajo vem há oito anos produzindo e encenando penas cômicas e já é sucesso em Imperatriz, mas não pretende parar por aí, a intenção é se aperfeiçoar cada vez mais e mostrar o trabalho em outras cidades.

O diretor-geral do Grupo Rogério Benicio relatou ao ComCultura a dificuldade da formação teatral para o grupo, pois há um grande déficit de cursos de teatro na cidade. “Aprendemos mais com a pratica. Na maioria das vezes foi preciso buscar especializações em outras cidades”, confidencia.

Para manter a produção artística da companhia são necessários esforços de todo o grupo, com ensaios altas horas da noite, depois do trabalho, faculdade, escola. Além da divisão da produção entre os próprios atores que assumem também o papel de figurinistas, roteiristas, criadores de cenário, maquiadores e responsáveis pela bilheteria.

O apoio financeiro à cultura ainda é escasso no município: “A cidade não nos ampara”, diz Whallassy Oliveira, integrante do grupo. Por causa disso, os membros do Okazajo em geral têm outra profissão. Buscam formas de se manter financeiramente para poderem ser atores. Segundo o grupo, as peças teatrais são feitas por amor, pois ainda não há como viver de teatro em Imperatriz.

E através da irreverência e do humor ¨escrachado¨, como eles próprios denominam, foram conquistando aos poucos seu espaço e um grande público: “Uma luz que buscamos para fazer teatro em Imperatriz foi a comédia”, diz Rogério. O forte uso do regionalismo é uma as principais marcas da companhia, explica o diretor-geral. “O nosso maior foco é a regionalização do texto”.

As fortes marcas da companhia também já foram alvos de crítica pela sociedade, mas todas superadas pelo grupo. “O pessoal de Imperatriz é muito preconceituoso, já taxaram o Okazajo como companhia de bichinhas!”, dispara Rogério, indiferente aos comentários negativos, mas receptivo às críticas construtivas, que apontem as falhas e sugiram melhorias.

A companhia reapresentou no último fim de semana (25 e 26) a primeira peça estreada pelo Okazajo, escrita por Rogério há 8 anos. Trata-se do espetáculo “A casa”, que aborda com humor as mazelas sociais de uma mãe solteira com vários filhos problemáticos em um bairro pobre de Imperatriz. A nova versão da peça é menos escrachada, mais atual e ganhou novos personagens.